Eu saí do msn... Mas eu estava ouvindo música e chorando... Não é justo a forma como as coisas estão acontecendo... Eu só queria ser mais do que eu sou... To me sentindo um lixo... A menor pessoa... A mais feia... A pior... Eu quero poder sentir outra vez que eu valho a pena... Chega de chorar... Chega de ******...
Vou soltar um balão pra ti... Eu preciso de uma luz... Me dê forças... Você é meu anjo... Mesmo que tenham derrubado a paineira... Eu vou sempre me lembrar.
A Lua estava cheia e Suzana repousava sobre o pufe de couro em seu quarto. Caía uma chuva fria e fina que fazia o cheiro dos gerânios sob o batente acentuar-se, a luz lunar recortada pela janela dava à garota um ar fantasmagórico. O cortinado pupúreo de repente balançou e o vento entrou no quarto passando veloz por seu ouvido. Um tremor tomou conta de Suzana, levantou-se de um salto. - Arrume meu cabelo, vá e diga-lhe que estou indo. O vento rugiu, as mechas começaram a entrelaçar-se e formaram uma trança perfeita. A cortina voou e o vento se foi. O ar ficou parado e anormalmente quieto. Abriu o guarda-roupa e tirou uma capa azul marinho, mirou-se na tela do computador desligado, pegou a mochila e saiu do quarto.Rabiscou um bilhete para a mãe, passou pela porta e a trancou. Caminhou longa e silenciosamente pelas ruas transpostas pelo luar. O capuz encobria seu rosto, os chaveiros tintilavam em sua mochila compassando com seu andar, parou, sentou-se num banco de concreto e ali ficou. Consultou o relógio impacientemente. Um vulto dobrou a esquina, uma capa carmim esvoaçava, caminhou rápido e sentou-se ao lado de Suzana. - Você demorou. - Tive uns contratempos. Está muito bonita hoja, Su. - Obrigada... Estás linda como sempre. Mas diga o que é tão urgente. Junie fitou-a com apreensão. - Bem, você acabaria descobrindo... Adário adiou mais uma vez o casamento. Os olhos amarelados de Suzana encontraram os negros de Junio e as duas sorriram. - Olha, vim aqui para te dizer... Não tenha esperanças. E ao falar, uma sombra tomou sua expressão. - Eu sei que não deveria. - Eu vou te ajudar. - Como? Ora, Junie! Você é uma Hoo... Jolie vai me ajudar. - Ah, Su! Não vou ajudá-la com meus poderes. - E o que vai fazer? - Digamos que vamos passear... - Certo... Pelo que te conheço, não vai me contar... Então, por hora, vamos ao Javali? - Mas fica longe e não vejo nuvens no céu. Suzana sorriu, colocou a mão no decote, puxou um fino fio prateado com um pequeno apito e soprou um silvo fino e claro. Intantaneamente a Lua foi encoberta por um ajuntamento denso de nuvens roxas. Os olhos de Junie se arregalaram. - Como você fez isso? Nenhum cloud consegue chamar nuvens tão rápido. - Lembra daquela viagem que eu fiz à Hollow? - Sim... Mas o que tem? - Eles fizeram este apito pra mim. É encantado, dentro dele tem a essência da minha voz, ele reproduz de uma forma mais sensível às nuvens. Mas não conte a ninguém. - Certo, vamos? Junie se divertia nas alturas e Suzana se divertia com o sorriso de Junie, porque é assim que os amigos deveriam ser. Desceram no Javali Saltitante. O bar estava vazio exceto pelo barman. - Boa noite Robie... Tudo bom? - Sim sim, senhorita... O de sempre? - Sim... - E a senhoria Junie vai querer o de sempre também? - Sim, água. Quando Robie trouxe as bebidas, porém, o sino da porta ressoou e o vento cortante do inverno entrou. Era Adário. - Nossa... Como este bar está vazio... Olá, Junie... Suzana. Com uma reverência curta ele se juntou a elas e pediu a bebida ao garçom. As garotas trocaram olhares significativos. - Engraçado você aparecer por aqui em plena segunda, Adário... - É? Me deu vontade de beber e eu sabia que encontraria vocês aqui. - Como? - perguntou Junie interessada. - Hum... Acho que eu ouvi por aí. Suzana levantou uma pestana... Sabia que o vento contara isso a ele. Pagou a bebida dos três para Robie. - Preciso ir. Quer uma carona, Ju? - Não precisa... - Ok... Bom, tchau para os dois. Ajeitou o cachecol sobre a boca e o nariz para proteger-se do frio, mirou os olhos de Adário e com um aperto no coração saiu do Pub. Não sentia vontade de usar as nuvens naquele dia. Caminhou com as mãos nos bolsos até a estação de trem. Entrou num vagão de aspecto abandonado e encardido.As portas se abriram na estação seguinte e na outra... Mas ninguém entrou até a quarta parada. Com um estrondo metálico, as folhas das portas deslizaram e um rapaz entrou. O trem estava vazio, mas ele sentou ao lado de Suzana e olhou-a dentro dos olhos. Ela sustentou o olhar... Não que fosse corajosa encarando outras pessoas, mas aquele olhar tão penetrante era agradável. - Oi. Parece que eu conheço você... De algum lugar... Mas não me recordo. Meu nome é Pedro. - Engraçado que eu também tenho essa sensação... Meu nome é Suzana, muito gosto.