segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sapa!

Coachei no meio do lago
Mas quando eu te vi do meu lado
Vermelha eu fiquei
E meu coachar calei

Emudeci...
Meu coração acelerou
Meu olhar não mais piscou
E mesmo assim a luz eu vi

Era um príncipe que vinha margeando minha lagoa. Eu estava repousando sobre as pedras ouvindo Djavan. Ele me olhou e por ventura ou azar havia um sapo ao meu lado e ele se foi... Me afastei do sapo, ele estava me fazendo mal. No fim fez-se passar por príncipe, mas não deu certo, ele jamais seria um príncipe, pois não era de sua natureza.
Eu já não sabia bem quem eu era, o que eu era... Partindo do pressuposto que eu estava residindo numa lagoa, passava grandes períodos submersa e meu reflexo na água era verde... Acho que eu era uma sapa mesmo... Mas eu já tinha sido outra coisa, isso era certo.
Acho que talvez eu tenha sido princesa três vezes, ou bem assim me senti por três vezes, compreende? Fui assim tratada como tal e fui feliz, tão feliz quanto uma princesa poderia ser, mas diferente dos contos de fada eu não fui feliz para sempre (por enquanto).
A diante com nossa história, pois o tempo não está barato hoje em dia... Passaram-se algumas semanas e eu continuava na minha pedrinha limosa do lago. Eis que ele voltou e dessa vez não havia sapo nem nada que impedisse a aproximação dele. E assim foi, ele arqueou as pernas, mas pela altura me via de cima.
- Bom dia.
- Bom dia, príncipe... Tu é um príncipe, né?
- Sim, eu sou... E tu? O que é?
- Ora... O que tu vê?
- Eu vejo um olhar de princesa, um coração de princesa... És uma princesa?
- Não sei mais o que eu sou... Eu sei que tu é lindo... E eu te adoro.
- Eu também te adoro... Mas eu preciso ir.
- Tu volta?
- Sim.
- Logo?
- Não tanto.
- Deixa algo de ti comigo, pra recordar?
- Deixo meu lenço amarelo... Pode ser?
- Claro.
Ele se foi e deixou o lenço amarelo... Ela cuidou do lenço com carinho e afeto.

Não sabia
Somente estava esperando
Um dia ele voltaria?
Ou ficaria só sonhando?

O fim dessa história
Não sou eu quem vai escrever
O destino vai tecer
Mas não sei se ele vai me querer

Tem um sorriso lindo
Que me faz tremer quando vem
E quando vai indo...

E ainda por cima... Tem nome de príncipe... Ai ai

domingo, 18 de janeiro de 2009

Gelo

Gelo
Pleonasticamente gelado
O copo suado
O cabelo molhado
O rosto enxarcado
O olhar vidrado
O miocárdio estraçalhado
O mundo parado
O andar soliário
O sentir saudade antecipado
O mudar autoritário
Tantos artigos definidos
Num coração encasulado
Num futuro indefinido
"Você merece ser feliz"
Sorrindo ele me diz
Mas ninguém quer o legado
De curar meu coração
Que está todo quebrado
Um sorriso encabulado
Um enrubrecer facial
Ser bom é mau
Nesse mundo imundo
Bondade e idiotice
Se confundem
E a inércia me faz crer
Que eu não mudarei ninguém
Mas minha parte eu irei fazer
E um dia quem sabe
Um fruto de bondade e felicidade
Eu vou colher

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Eu sei que sabes...


As cores dos fogos de artifício refletiam-se em seus olhos... O céu iluminado da Av. Paulista prendia sua atenção, ela estava deveras embriagada, mas tinha noção de todas as coisas... De como a noite estava bonita e agradável, do quanto ela precisava daquela energia, do quanto ele estava longe e do quão impossível seria dar tudo certo naquele ano que acabara de chegar. Mas a verde esperança que ela buscava naqueles olhos castanhos a fez sorrir imaginando que talvez ele reclamasse muito por ela roncar a noite... Se divertiu enumerando seus defeitos e devaneando se ele por ventura a amaria mesmo assim. Mas o dia raiou na Vila Madalena e ela ficou se questionando sobre suas atitudes, sobre tudo que estava fazendo... Será que seria a forma mais correta? É... Achava que não. Mas que poderia fazer?! Não era de seu feitio magoar as pessoas, e levava "O Pequeno Príncipe" ao pé da letra... Sentia-se realmente responsável por todos aqueles que cativava; sempre honrara com suas palavras. Então por hora seguia sua conduta, mas ainda sim, questionava-se sobre a possibilidade dele pensar que ela estava fazendo birra ou pirraça, ou também, na infeliz possibilidade dele nem se importar. A terceira era mais válida e isso doía demais. Por isso ela sentou-se na poltrona mais próxima da janela pra sentir a brisa que brincava agradavelmente fresca com seu rosto e suas madeixas. Acendeu um cigarro e colocou-se a chorar silenciosamente para que ninguém ouvisse ou percebesse. Um turbilhão de emoções que ela não entendia e que ela ainda não conseguia fazer fluir pois o gelo havia tomado conta de todo o peito... A alma era forte, por isso ainda esboçava um sorriso firme e tinha o dom de conversar... Abria sua história, mas seu coração continuava duro e sem vida. Ela já aprendera na vida que gestos, olhares e atitudes falam mais que palavras... É um dizer nas entrelinhas, nas nuances que vão além do sim e do não... É o segredo do talvez e a nota púrpura do mistério. Será que ela avistara mais cor nessa turvidão nebulosa a frente? Ela o conhecia, talvez mais do que ele imaginava... E queria algo mais concreto que uma pincelada tão sutil de alma. Agora ela queria só saber... O que geralmente ela descobre num olhar. Mas que não conseguia discernir o que estava por trás daquele semblante impassível... Será que tu sabes? Que tens sempre o mesmo olhar?





Eu sei que sabes...