domingo, 14 de setembro de 2008

Lá vem ele...

Levantou a cabeça do copo de cerveja para observá-lo, estava calor... Seu corpo e seu copo estavam suados. Nada poderia fazê-la desviar o olhar... Ele vinha sob o Sol, com os olhos encobertos pelo vidro fumê dos óculos escuros. Mesmo com o tempo seco, vestia preto... Ela estava relaxada sob a sombra com seu vestido floral... Abaixou os óculos de sol para que pudesse mostrar seu olhar a ele. Apenas uma sombra de sorriso crispou o lado direito da boca dele, aquele sorriso charmoso, aquele sorriso de michê sem escrúpulos e ele devolveu o olhar tão intensamente que nem a cobertura dos olhos poderia disfarçar, sentia-se isso como um campo magnético...
A rua tornou-se longa, e ele andava vagarosamente como se quisesse provocá-la a esperar mais uns minutos. Puxou o trinco do portão com um barulho metálico e o empurrou rangendo para poder passar... Andou sobre o concreto para não estragar os agapantos purpúreos que ela cuidava com tanto afeto. Agora não era o calor que enxarcava as mãos dela, um arrepio subiu pela sua espinha passou pela sua nuca e seus braços, mas ela se manteve firme, mal remexeu os pés que estavam para fora da rede multicolorida calçados com uma sandália dourada. Encostou a mala de viagem no pilar e caminhou até onde ela estava, colocou o punho sobre a rede e a balançou vagarosamente.
- Porque vens tão devagar?
- Porque não me esperas no portão como uma namorada anciosa e não sai correndo ao meu encontro quando me vê?
- Você sabe... Eu não sou um anjo.
- Sim, eu sei... Por isso que me apaixonei por ti... Mas tu sabes que eu também não sou angelical... Não esperavas que eu viesse correndo pros teus braços né?
- Não, não esperava... Mas parece que fazes só para provocar-me.
- Engraçado como sabes dessas coisas...
- Bá... Deita-te logo, vá... Que não me caibo em saudades de ti.
- Nossa, como estamos carinhosos...
- Como se eu não o fosse...
- Eu sei, amor... Estou brincando...
Pousou-lhe um beijo estalado na testa, colocou as mãos em seu queixo e levantou até seus olhos nivelarem-se. Nunca haviam olhado daquela forma para ninguém. Os olhares promíscuos de sempre deram lugar a ternura; nenhum dos dois entendeu, nenhum dos dois sequer percebeu que retribuia o olhar na mesma moeda.
- O que foi?
- Não sei... Você me olhou que nem o professor Girafales olha pra Dona Florinda...
- E você me olhou que nem a Dona Florinda olha pro professor Girafales...
- O que significa isso, Fá?
- Não sei... Mas vendo você me olhando assim... Faz eu sentir que quero-te sempre por perto... Que é a mulher da minha vida... E eu te amo...
- Você nunca disse que me ama... - e nessa hora, seus olhos marejaram-se.
- Eu sei, mas eu te amo...
- Eu também te amo.
Eles beijaram-se... Nunca é tarde nem cedo demais para dizer para alguém que você a ama... Não tem dia, nem hora e nem lugar certo... Não há luz ideal... Pois cada um sonha em ouvir o seu "eu te amo" num lugar diferente... E não importa nada... Só quem fala... Nada mais...
Descolaram-se do beijo... E olharam-se muito fundo...
- Amor, tudo isso foi muito fofo... Mas entra na rede agora, vai?
Ele sorriu como se não pudesse imaginar algo melhor para ser dito naquela hora. Puxou as cortinas da varanda e deitou na rede. Os vidros embaçaram-se... A fusão de sentimentos e pessoas divergentes fazia daquela relação peculiar algo imortalizado nos corações deles...

"– Como é que pode, digo-me com espanto
A luz e a treva se quererem tanto..."


(Vinicius de Moraes
)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Alguém inconfundível

E hoje me deu uma saudade da época que eu trabalhava na telefonica... Aquelas atribulações todas, trabalho nos fins de semana e nos feriados... E eu estava lá futucando meu passado nas pastas que criei e esqueci... Encontrei um texto que fizeram para mim... É engraçado, mas palavras tão doces fazem o dia da gente mais feliz... Levantam nossa moral e botam um sorriso no nosso rosto... Obrigada!

"A ti dedico estas palavras,
Sem rimas, nem ao menos sentido.
Mas dotadas de um intenso sentimento.

Escritas como há muito não escrevo,
Apenas a papel e caneta,
É só a simplicidade como deve ser,
A mesma simplicidade que me remete a você.

Vou buscar por todo meu caminho,
Um outro alguém,
Mas é certeza que não encontrarei
Alguém especial como você.

A mesma que vive escondida por ai
Que, até mesmo um simples olhar,
Logo revelaria o que de mais incrível esconde:
Uma doce e linda menina,
Uma doce e linda você.

Até mesmo sendo tão simples,
Pode gerar duvidas a si.
São apenas caminhos que não sabe como seguir,
Um incrível futuro esperando você,
Uma felicidade sem fim pra mim.
Caminhe na direção de seu coração.
Viaje por mundos sem fim."

(Novecaldas)