segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O sol já transpassava o vidro da janela... Virou-se afim de evitar a luz no rosto, mas não conseguiu mais dormir. Sob as cobertas sua cabeça girava, estava cansada. Olhou o luminoso do relógio... Eram sete e meia. Podia dormir um pouco mais, mas não obteve êxito. A frustração veio e ela levantou-se... Abriu o vidro e a brisa entrou no quarto deixando o ambiente fresco e confortável.
Sentou-se no pufe roxo de chintz, pegou o cinzeiro, uma cigarrilha de baunilha, sua piteira negra e um isqueiro. A fumaça subia e ia embora com o vento, recostou sua cabeça, mas não fechou os olhos. É bem típico dos tabagistas observar a fumaça desaparecer.
O cheiro de baunilha encheu o quarto. Terminou seu vício e foi banhar-se, Não havia ninguém em casa, os irmãos estavam na casa de amigos, os pais no trabalho... Ligou o som alto e deixou o corpo sob a água.
Nem pensava que ele ia chegar... Já havia muito quando ela desistiu de esperar. Esperou sentada, mas o tempo foi tanto que mesmo assim ela se cansou.
Já que ele não vinha, decidiu sair a procurá-lo... Encontrou imitações, encontrou réplicas quase perfeitas... Mas não encontrava o original. Procurou no alto, nas ruas, nos bares... Mas não encontrou... Estava frustrada sob o chuveiro, contudo desistir não estava em seus planos.
Se vestiu, girou a chave na porta e saiu... Andou sem rumo... Como sempre invisível... Viu o sol do meio dia e o viu rubro poente no horizonte quando o purpúreo crepuscular tingiu o céu. Ela entrou numa festa.
Todos estavam dançando, mas não o viu. A música alta alegrava seu coração, mas ela ainda estava cansada, sentou-se num canto. As luzes piscavam incomodamente e ela cerrou os olhos. Descansou e foi dançar depois. Olhou a sua volta mas estava só, reparou bem, e viu que não completamente só... Piscou e avistou que tinha um outro alguém atrás da cortina de fumaça... Caminhou até lá... E encontrou, não o que estava a procurar... Mas encontrou...
- Boa noite, moça... Qual seu nome?
- Sou Esperança e você?
- Invisível, muito prazer.
- Eu já te conheço...
- É? Eu não me lembro disso...
- Faz muito tempo que você me deixou de lado...
- Hum... Você pode me desculpar?
- Claro... Mas parecia procurar alguém... Quem era?
- O amor...
- Eu o vi passar agorinha... Mas ele já se foi... Eu te ajudo a procurar caso queira...
- Eu quero sim...
Os dias se passaram, elas acordavam antes do nascer do sol e chegavam em casa muito depois dele se pôr, porém o amor não foi avistado. Já faziam meses, quase ano que estavam procurando sem resultado... Uma manhã fria de julho chegou, Invisível já se preparava para mais um dia, foi acordar esperança, contudo a cama estava vazia, ela se fora sem sequer deixar um bilhete de aviso.
Saiu sozinha a buscar, mas aquele ânimo sumiu, a esperança sempre a incentivava e dava-lhe força.
Numa noite, sentou-se sobre o meio fio e mirou seu reflexo nos vidros espelhados azuis de um grande prédio comercial. Via-se com os olhos fundos e cheios d´água, os cabelos limpos, porém sem vida, expressão cansada e tristonha como a de um são bernardo.
Ele passou...
- Amor! Por favor! Amor, venha cá!
- Pois não gentil senhorita...
- Eu lhe procurava... Há muito tempo.
- Engraçado, eu sei que me procuravas, todavia eu percebo que como ser humana tens o condão de escolher o que pior lhe fará.
- Como assim?
- Tu te lembra quando andávamos juntos?
- Sim, vagamente...
- Então... Espere... Um dia eu volto... Agora não é hora de eu ficar ao teu lado... Sorria e não me olhe assim...
- Certo... Mas quando você volta?
- Um dia... Na hora certa... Como os sábios.
- O que é você...?
- Não sou sólido, nem líquido, nem gasoso, não possuo forma nem cheiro específico... Eu sou uma incógnita que não pode ser definida.
- Um dia eu vou te definir... Quando puderes voltar a caminhar comigo.
- Não precisas definir-me... Basta sentir.
- Você não me verá, apenas saberá que eu estou por perto.
Fez-se uma fumaça tênue e o amor havia ido embora. Invisível pegou um carro e foi ver o mar, tentar entender o que o amor lhe dissera... Não entendia a solidão que batia dentro do peito... Não entendia porque o amor não podia ficar com ela... Foi quando olhou para o céu e viu como havia tantas estrelas, olhou para o mar e sentiu o sal e as ondas irem e virem, sorriu como há muito não sorria e percebeu que não adiantava correr e procurar o amor, sendo uma incógnita não sabe-se como encontrá-lo na forma em que se deseja... Necessário é aguardar que ele venha até ti da forma que precisas para teu coração.
Ela entendera e agora espera o amor chegar...
O coração de invisível estava com seus incontáveis curativos sobre feridas que talvez se fechem um dia... Talvez, somente talvez quando o amor voltar, se ele voltar...


TALVEZ... E SOMENTE TALVEZ...




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