terça-feira, 29 de setembro de 2009

Consulta Médica

- Bom dia, Elisabete.
- Bom dia, doutor.
- Onde dói?
- Aqui - e apontou para o peito.
- Hum... E dói o tempo todo ou somente em determinadas situações?
- Dói o tempo todo, mas tem horas que a dor aumenta.
- Certo. Em quais situações?
- Quando me sinto sozinha, quando ele diz que não me ama...
- Hum... Sente-se na maca.
Sentou-se um tanto quanto ressabiada. O doutor sacou o estetoscópio e ouviu atentamente.
- Diga trinta e três.
- Onze.
- Eu disse pra dizer trinta e três.
- E eu digo onze. Trinta e três não me agrada.
- Agora já disse trinta e três.
- Mas não te direi novamente. Apenas dir-te-ei onze.
- Certo, já ouvi o que precisava.
- E o que o senhor precisava?
- Tu não compreenderias.
- Por que?
- Por que fiz seis anos de graduação e três de pós graduação para compreender.
Juntou as pontas dos dedos e suspirou num movimento muito seu.
- Beleza, doutor. Então me diga o que eu tenho
- Nada. Nada que tenha remédio.
- Então não tem cura essa dor?
- Tem, mas não posso escrever numa receita.
- E tem nome a minha doença?
- P.A.C.C.C..
- P.A.C.C.C.?! O que é isso?!
- Platonismo Agudo com Contusão Cardíaca.
- Isso é sério?
- Não, isso passa.
- Demora?
- Não sei.
- Como não sabe?
- Não sabendo.
- Pode não passar?
- Pode.
- E se não passar?
- Não passou.
- E eu vou morrer?
- A morte carnal ocorre mesmo que passe. Em teoria seu espírito já está morto.
- Então eu só existo?
- É, só existe.
- E quando eu vou VIVER?
- Quando passar.
- E quando vai passar?
- Não sei.
- O que eu faço pra passar?
- Nada. Só espere.
- Mas eu quero viver logo!
- Tu já viveu algumas vezes, espere.
- Não gosto de esperar.
- Ninguém gosta, mas precisa.
- Tá bom. Mas enquanto eu espero, o senhor pode me dar mais um fígado?
- Não, senão você vai beber demais.
- E outro pulmão?
- Não, senão você vai fumar demais.
- Outro cérebro então?
- Não, senão você vai pensar demais.
- Mas eu já penso demais.
- Então dê-se por satisfeita.
- Outro coração eu não quero!
- Por que não?
- Por que senão eu vou sofrer demais.
- E você já não sofre demais?
- Sim, mas não me dou por satisfeita. Eu não quero mais sofrer.
- Então não sofra.
- Não é tão simples assim.
- Eu sei que não é. Precisa de paciência.
- Eu não tenho.
- Então compre.
- Como se compra paciência?
- Tudo se compra com dinheiro.
- Então eu vou comprar amor.
- Digo, QUASE tudo se compra com dinheiro.
- E o amor?
- É de graça.
- Então eu quero.
- Só se alguém te oferecer. Amor não se pede, não se mendiga, não se compra.
- FODEU!
- O que?!
- Fodeu... Ninguém vai me oferecer amor se eu não pedir.
- Espera.
- Tá, tá, tá! Espero... Tchau, doutor.
- Bom dia, Elisabete. Retorne em seis meses.
E bateu a porta contrafeita.
- Próximo!

Um comentário:

Krika disse...

\o/ vivaaaaaaaaaa!!!!
texto novo *_*

Betty, tu sabe neh, não preciso nem falar....
SOU SUPER TUA FÃ!!

to decorando os textos já, sempre q bate a saudade passo aqui pra te ler um pouquinho....

beijããão!!!

PS: phodastico o texto, como sempre