sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Pardal

Era uma manhã de horário de verão, mais escura do que deveria estar... Comecei a subir a rua com minha bolsa, minha mala de viagens. Ainda estava úmido, mas eu tinha certeza que ia esquentar. Um carro estava descendo em alta velocidade e um pequeno pardal cruzou seu caminho.
Estaquei, ouvi o barulho da batida e o pio do pequeno. Não sei o que me deu, era um pardal, um simples pardal como qualquer outro. Vi a pequena mancha de sangue no asfalto e algumas vísceras. Larguei tudo no chão olhei em volta, ninguém se comoveu com a morte do pobre e outros carros ao longe aproximavam-se. Corri deixando as malas e bolsas na calçada, encontrei uma folha de jornal ao vento e recolhi o corpo piando baixinho do meio da rua antes que alguma roda o esmagasse.
Chorei um pouco e um grupo de mulheres que passavam riram de mim... Os pios sessaram e ele desfaleceu ali na minha mão.
Não sei o que me deu, eu sabia que não conseguiria salvar o passarinho, mas deixá-lo ali para ser esmagado me pareceu tão ruim... Enrolei-o então no jornal e fui levando o pobrezinho.
Encontrei um terreno tomado pelas eras e matinhos e lá havia uma pedra, coloquei-o lá.
Não havia ninguém pra se despedir dele, os outros pardais deviam estar ocupados.
Não havia muitas lágrimas, inclusive as minhas já haviam sessado.
Não havia marcha fúnebre, nem brindes ao nobre que se foi.
E pensar que mesmo sem tudo isso, ele teve um fim mais decente que muitos humanos, uma morte bem menos dolorosa e uma vida bem melhor.
Não teve as agonias que por ventura temos, não perdeu o sono pensando na infinidade de coisas que tinha pra fazer e nem perdeu o horário para procurar comida.
E quando eu já tinha pegado o ônibus me ocorreu que a pena deveria ser dele para comigo. Um pequeno ser cheio de penas de nós que não temos asas.
Parece besteira pensar nisso... Era só um pardal... Era só uma vida...

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