sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sonhos Acordados

Era um dia claro, a chuva caía fazendo aquele som maravilhoso de preguiça. Mas não estava muito frio. O lugar era lindo... Fizeram uma boa escolha na agência de viagens. Era um quarto com varanda, rústico, madeira escura no chão e natural nos móveis com estilo antigo. Uma cama de lençóis brancos, tapetes beges no chão e na varanda havia vasos de cerâmica enormes com folhagens verdes, grandes e lisas cheias de orvalho.

Enrolou-se num lençol, recostou-se numa poltrona de madeira e estofado listrado que ficava defronte à paisagem. Era uma vista encantadora, nuvens baixas, campos verdes e à média distância bosques; tudo úmido e tranquilo.

Bebericou o chocolate quente que havia pedido. Não dormia até tarde fora de casa... Ainda era cedo demais para sair. Olhou para trás, ele ainda ressonava sob as cobertas. Queria acordá-lo, abraçá-lo, beijá-lo... Mas achou muita maldade fazer isso. Então se concentrou em coisas mais triviais como o cantar dos pássaros e as formas que as nuvens desenhavam no céu. Sabia que ele logo despertaria, não era do seu feitio dormir tanto... Apesar de terem adormecido muito tarde na noite anterior.

Tinham planejado andar a cavalo antes do almoço... Ela estava muito animada, ele um pouco temeroso. Mas se a chuva não parasse, provavelmente teriam que adiar o passeio. Ele nunca tinha cavalgado. Ela riu pensando na conversa da noite anterior.

- Ah! Amanhã vamos andar a cavalo... Estou tão ansiosa!

- Mor, não é difícil mesmo?

- Você tá com medo, é?!

- Claro que não... Só um pouco nervoso... Mas pelo que você disse é fácil.

- É sim, você vai se sair bem, certeza!

Ouviu um grunhido, olhou para trás e ele estava se espreguiçando.

- Bom dia, Mor... Tem um chocolate quente pra você em cima da mesa.

- Bom dia... - disse com a voz cheia de sono.

Ela ficou feliz que ele tivesse despertado. Abriu sua caixinha de música enquanto ele lavava o rosto... Aquele sonzinho bonito de quando a gente ainda tinha idade pra sonhar em ser bailarina encheu seus ouvidos...

- De novo essa caixinha, Mor?

- Você não gosta?

- Gosto, mas você gosta muuuuito, né?

- Sim, se a gente fecha os olhos enquanto ouve parece que fadinhas estão voando pertinho.

- Ai, Mor... Só você... - Disse sorrindo e revirando os olhos. Tomou-a nos braços e a ergueu de forma que seus dedos dos pés somente roçavam o chão. Os olhos estavam nivelados, ela sorriu e piscou.

- Como você pode amar uma menina tão cabecinha de vento?

- Porque eu tenho os pés no chão. Eu preciso de alguém sonhadora do meu lado.

- E você precisa me segurar aqui pra eu não cair.

- Eu te amo.

- Eu também te amo... Tanto que eu nem sei dizer...

- É mais do que as gotas do oceano e as estrelas do céu? - disse rindo.

- É mais que assim ó... - e fez um gesto indicando grande quantidade.

- Então tá bom... E o que a minha mais tudo vai querer para o café?

- Pão doce... Pode?

- Pode sim... Mas antes, eu to com uma saudaaade... - e deu um cheiro no pescoço dela.

- Pede o café, a gente mata a saudadona, depois sai... O que acha?

- Uma ótima ideia.

Rumou até o criado mudo, pegou o telefone.

- Bom dia... Você pode mandar para o quarto 2905 um pão doce, dois cafés e um pão com manteiga? Ah, sim... Obrigada.

Desligou o telefone.

- Pronto, Mor... Agora vem aqui?

Ela sorriu, deixou o lençol escorregar pelo seu corpo, caminhando lentamente e sorrindo até chegar à cama.

Depois de um certo tempo os dois já haviam tomado café, mas a chuva não parara.

- Acho que nossa cavalgada vai ter que ser adiada.

- É né... Que caquinha... Eu queria tanto ir.

- Ai, Mor... Amanhã a gente vai.

- Ah, você tava com medo, ó... - ela fez bico e ele riu.

- Tá, não to afim mesmo de andar de cavalo...

- Se diz andar a cavalo, Mor.

- Tá, tá... Mas a gente pode fazer outras coisas.

- Então realiza um sonho meu?

- Que sonho?

- Vamos tomar banho de chuva juntos?

- Só isso?

- Só... E eu quero um beijão bem grande.

- Esse sonho eu posso realizar. Mas depois a gente tem que tomar um banho bem quentinho pra não ficar doente, tá?

- Uhum... Vamos?

- Vou colocar o tênis.

- Não, Mor! Vamos sem sapatos.

- Mas tá frio!

- Mas vai molhar tudo! Roupa seca, mas sapato demora...

- É, você está certa...

Eles desceram sem sapatos pelos corredores... Correram pelo campinho de futebol do hotel, deram muitas risadas, rolaram no chão... O céu ficou nublado, uma chuva de gotas grandes e grossas começou a cair e eles ficaram encharcados... Estavam rindo se beijando, se abraçando...

Todos os sonhos podem se realizar... Mas os mais simples sempre são os mais ternos, especiais, memoráveis, puros e lindos...

Você realiza meus sonhos todos os dias...

Realizar sonhos é tão fácil... Eu demorei pra descobrir, que realizar é o menor dos problemas... O maior deles é saber o que você realmente quer.









...Eu quero você... Pra sempre...

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